cães da madrugada
À mesma janela.
Lá fora ficou a cidade,
a madrugada,
o sono correndo pela ponte sobre o rio,
as luzes de ouro enriquecendo a noite.
A noite.
Não há violões.
Há conversas de cães solitários
desde suas cadeias, de um bairro a outro;
eles têm grades – verdadeira maldade...
Pulam canções de grilos e sapos
e toda a história das princesas humanas
que beijaram um ancestral sem tempo;
até os sapos têm sua mitologia.
Lá fora, a minha alma paira
e não tenho medo
de não ter vontade
de ir caminhar.
Desobedeço o carpe diem.
Esta noite é de livros e lençóis brancos.
Amanhã sim, a mão cortada de suor e matagal
para buscar o rio. Cotidiano de bugre voluntário.
Nesta noite, parece-me bastante
saber que lá fora estão os caminhos
e aqui dentro há música.
Não posso me queixar.
Aqui dentro há música azul e branca,
uma dama loura, amigos bebendo;
cãezinhos livres, que o horizonte rápido engole;
senhoras atônitas, “Pegue o miserável, moço!”
“Minha senhora, quem é que pode
contra um cachorrinho novo no mundo?”
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