O gato branco
(à Rosa Roseana)
Hoje o gato branco não veio...
A chuva foi demais...
Começou com uma garoínha muito espalhada
fininha, fininha, como sumo de laranja descascando
- talvez o grande sol, quem sabe?, na mão da noite,
ao fio de faca da lua; descascando; suando...
E depois virou-se uma chuva forte,
como se o regador furadinho emborcasse e ficasse,
deitado pra frente, chovendo tudo, da mão de Deus,
enquanto ele se distraía, gordão e feliz, assim ficando,
acenando ao compadre; conversando...
Ou como se um rio se desviasse
caindo muito cachoeiro, do céu,
pelo funil da noite
como areia de ampulheta
que voltará, no amanhã de sol,
todas as gotas para o céu, de novo
- leves e invisíveis; invisíveis, leves...
......
Agora que parou de chover,
e a noite é umidade fríinha do ar,
o gato branco pode se aperceber
tão silente e fofo no seu mistério...
- hoje, porém, não é com os olhos:
eu vejo é com atrás da cabeça
onde a janela está aberta:
Vês? é além da janela,
no quintal molhado
(ele sussurra pelo chão...)
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