sábado, 31 de março de 2012



Stars não é a designação.

Estrelas, muito menos.

Porque é mais o escuro

onde as luzes se projetam.

É mais a manta

salpicada de constelações.


Muro inexistente.

O céu é onde mais se alcança.


Mar

de ilhas distantes.


Ali está Pang Lai, e o Preste João,

Eldorado e Paiquerê. As Ilhas

Afortunadas e a Ilha dos Amores.

Da Górgona e da Sibila. Calipso

e Camelot. E se as procurarmos,

encontraremos nuvens de poeira

colorida, e calores incandescentes.


Dissolução dos mitos.


Mar,

de ilhas distantes.


Que mitos fofos de algodão

habitam, agora, o céu noturno.


Mar,

de nevoeiro.


DEW – Sereno

Há quanto tempo não vejo o sereno.

Mesmo acordando cedo, mesmo viajando cedo por esta viagem do dia a dia, há quanto tempo não vejo o sereno.

O sereno já cobria as bicicletas, assim que davam oito horas. Cobria os portões de metal, cobria os muros de tijolos, cobria o ar.

– Sai do sereno, menino!

E saíamos para dentro das casas...

Hoje, não encontro mais o sereno.

A não ser na cidade arborizada e cheia d´água...

As nossas plantas não acordam mais com sereno.

E a umidade dos nossos narizes é seca...

***

Ilusão de sereno: o galho da dama da noite, florida, e com gotas de chuva, na noite. Brinco de balançá-la, como se se tratasse do cabelo de uma criança.

***

As gotas de chuva, no vidro do carro, formaram uma constelação da Tulipa. Flores estelares...

***

ORCHARDS – Pomares

Eu sonho que vários terrenos na cidade virassem pomares municipais, guardados por guardas (haveria emprego para a população!). Esses pomares dariam frutos às pessoas, inclusive aos mendigos. Laranjas, limões, acerolas, mamões, abóboras, caquis, abacates, poncãs, tangerinas, amoras, goiabas, mangas, chuchus. Difícil de cuidar? Celeiros municipais...

***

Como fazem falta, as fontes que brotam da terra. Fontes d´água...

***

PALM TREES – Os coqueiros

Sibipirunas são árvores que dão sombra.

E têm as flores amarelas.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Eu gosto de estar em tua companhia

Eu gosto de estar em tua companhia.
E ser o verde da folha onde estou.
Estou em cima do melhor que há.
Isso é a fé, e não mais.

Eu gosto de estar em tua companhia,
como se estivesse ao sol,
e como sol se acende o meu peito,
em tua companhia.

Quando estou em tua companhia
a chuva não causa tristeza,
mas é mole engrenagem
do nosso cotovelo à mesa.
O sorveteiro bale a sua buzina,
e toda a rua acorda,
todas as pedras acordam
do seu sono banhado de sol.
Quem dera caísse um gelado
por estas frestas...
Mas, que centavo teríamos,
dizem as pedras.
E sentem que a tarde
só terá fim
com a chegada da lua,
lua de frescos ramos
sobre a sombra...
A taça que eu engoli
eu não devolvi.
Eu te amo fez uma casa
no meu estômago,
no meu ventre.
Aqui iluminou.
Entrou pelos ouvidos
e iluminou o peito
e os braços e o pescoço
e a cabeça.
Mas não o cérebro,
que só se irradiou
dessa força tremenda
que vinha dos ossos.

Vinha dos ossos.
O amor é como
o vinhateiro.
E desceram cabelos de eletricidade
pelos braços,
pela pisa da uva.

Assim os efeitos do amor.

Que eu te diga
e seja um segredo
a te iluminar.

Como lua
em noite.

Como sol
em dia.

Vinha dos ossos.

Para Entender Um Quintal



As frutas estão moças,
estão adocicadas de perfume.
Início de outono,
elas se chamam caquis.

Faz uma nuvem como cinza
de leve papel queimado.
Que deuses terão escrito
esse poema, às cinzas dedicado.

Cinzas que se desfazem em gotas,
liquefeito sentido...

Brilha uma moça à sombra do céu.
Ela se chama "flor".
É branca e tem cabelos verdes.
Mora ao lado do tronco cortado
a que chamaram "mangueira"
e tem um bisneto a seu lado.

Parreira se derrama.
Em agosto, podá-la,
assim me ensinou
meu mestre em podas de parreira.
O mesmo cujo vinho
é chamado a compor
a taça de Deus,
experiência feita.

O silêncio do vento cobre o verde.
A sombra do pomar nem parece sombra.
É como um botão que não desabrochou
à luz que o rodeia.

Vinhas de cegos.
Assim são os eucaliptos.
Menos este
que exala puridade
do seu corpo branco, imaculado,
e das suas folhas mágicas
como asas de tinkerbell.
Assim me parece, esse moço.
Alto como jogador de basquete,
alto como torre
de uma igreja,
cujo sino
o coroinha é incapaz de tocar.

Cerca da varanda.
Multidão de tias.

Fogão de lenha.
Morada de antigos leitões.

Pereira tremulante.
Onde moram orquídeas calmas.

Fonte aquietada,
a garganta da pia,
quieta.
Mas basta eu esperá-la,
à fome,
para que se abra e saia
a sua seiva.
Seiva de água.
Que se desfaz em sede.

Passante destas plagas,
um ser humano,
que foi colher coisas
no pomar.

Saudação,
"Ooi".

Vento
que não incomoda o gramado.

Cachorros vêm procurar carinho.
Encontram a benção de Deus.

E tu não estás aqui, meu amigo,
nesta cadeira.
A de número 7 na astrologia.
A de cor verde na alquimia.
A branca cadeira
da realidade.

Tu não estás aqui, meu amigo,
mas noutro lugar.
E onde estejas
esteja o teu coração.

...

Volta, o ser humano, por selvas,
e por garridas garras de acerolas,
volta caminhando,
com a sacola cheia
da caça de laranjas.

Silêncio.
Tudo vai dormir.
Ou sonhar.

Estábulo vazio.
Campina aberta.

domingo, 25 de março de 2012

ELA



"Vem, Maria!... Corre que já vai sumir!..."

E o balãozinho rodopiava no ar.
Rodopiava no ar gelado.
O balãozinho incendiado.

As mulheres viam.
Os homens viam.
Na rua, nos bares, nas casas.
O balãozinho aceso na noite gelada.

Coisa de quem?
Que meninos?
Aqueles ou aqueles?
O filho dela e o filho dela e o filho dela?

Balão apagado.
Todos pra dentro.
Que frio!
Que bonito que foi!

"Maria!"

E Maria se virou.
O cobertor azul, bordado de amarelo.
O rosto moreno.
A luz do alpendre da cozinha sobra a cabeça.

E o homem fecha a porta
sem olhar a porta.

Os dias.

Barro moldado, barro cozido, barro pintado.
A oficina do santeiro.
Maria.
Xás de hortelã.
Maria.
Maria.
A companhia.

Os dias.

Maria...

... mas numa noite de outro inverno
a lembrança cresceu
e ele cometeu uma heresia.

Ela juntava as mãos, com frio,
e ficaram como mãos rezando.

O cobertor azul virou um manto
e os bordados amarelos, arabescos dourados.
A luz do alpendre, sem saber,
há muito já tinha virado uma coroa.

Permaneceu onde não vissem
entre os santos e as santas.

Um dia,
os dias pararam de vir.

Doados os santos ao Patrimônio
lá se foi para o rio a heresia.

Maria.

E o tempo veio trazendo os pescadores.
Mas os pescadores não vinham trazendo nada.

Mas quando pescaram ela
foi como pescarem a mãe ou a mulher
ou melhor
foi como pescarem ela.

Vieram todos.
Uma chuva de prata.

Vieram todos.
E os homens comeram.

Então é uma santa!

Não, nós sabemos.

É Maria.






sexta-feira, 16 de março de 2012

PLANTAS AMBULANTES

O vaso de samambaias foi deixado esperando um ônibus. Foi esquecido ali, na sombra do ponto. Ali ficou, a ver os carros, e a sentir, aos poucos, o benefício da sombra, e imergir em contemplação, mesmo em horário de pico, e só foi perturbada uma vez, quando o ponto ficou bem lotado e esbarravam nela, e a amassavam, mas isso só a mergulhou mais fundo em si mesma, em sua consciência.

Até que uma senhora gostou dela e a levou para casa, visto que ela estava perdida, esquecida ou abandonada. E ficou entre outras, na varanda e garagem.

Até que, enfim, depois de ter visto muito, de ter presenciado muitas coisas, e participado de muitos eventos, foi presenteada a um neto, que a levou para outra casa, onde ela ficou no parapeito de uma janela muito alta, a contemplar, de longe, as luzes da cidade, quando a noite caía, e a aragem a mexia.

Todas as vicissitudes dessa planta culminaram com uma criança que a pegou para brincar. Foi muito divertido, para as raízes, que se sentiram podadas para renascer. A planta ficou irreconhecível, e foi jogada como morta, num lixão onde as raízes, tristemente, pereceram, por falta de um senso de caridade, dos homens.

Os vasos são plantas ambulantes. Como este mundo está moderno!

Tudo por obra do homem, que muda as pedras de lugar. E as plantas.

Outros vasos têm outras aventuras. Alguns chegam a atingir 50 anos de idade, o que nos faz pensar que os 60 anos regulamentares do homem são suficientes para uma vida boa. Mais do que suficientes.

Alguns vasos duram mais, outros duram menos. Isso depende de muita coisa. Depende das condições em que se formou a semente; depende do cuidado humano, depende das condições climáticas. A grande alegria de todo vaso é a de ter atingido a vida plena, seja morrendo aos 3 ou aos 65 anos de idade.

Assim, o homem.


Por muitos crepúsculos passei,
essa era a minha sina,
ser diferente em área
que são diferentes, todos.
E tenho comigo que a vizinhança é anônima.
Que os carros são velozes.
Que a loucura é uma taça
de ebriedade
não tocada
apenas sentida
como sol em nuvem rosada.
Ingênua a demora.
Tola.
Como seixo que chegasse à fímbria do oceano.
Veio navegando, como concha.
E desatou os nós
das ondas.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Procurei o que fosse constante no céu e na terra.
E encontrei amor.
O amor é uma descoberta recente no céu.
Como um Sol.
Amor no centro da Terra.
Amor nas galáxias.
Amor que protege
e convida.
Amor que acompanha.
E os pássaros despertam...


(Duartina, 12 de janeiro de 2012, 6:52 da manhã)
Amor, que bate o tambor
no fundo do vale.
Amor, que queima as mãos
nas estradas de terra.
Amor, que colore
o céu azul esbranquiçado.
Prateado.
Amor que seca as samambaias.
Amor, que mantém a janela aberta
Amor, que sustenta o teto.
Amor que se detém atrás
e se projeta no futuro.
Amor da luz
que logo se apagará
com a vinda do Dia.
Amor, a chegada do fim.
Distinguem-se colinas...

(Duartina, 12 de janeiro de 2012, 6:35 da manhã)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012