sexta-feira, 30 de março de 2012

Para Entender Um Quintal



As frutas estão moças,
estão adocicadas de perfume.
Início de outono,
elas se chamam caquis.

Faz uma nuvem como cinza
de leve papel queimado.
Que deuses terão escrito
esse poema, às cinzas dedicado.

Cinzas que se desfazem em gotas,
liquefeito sentido...

Brilha uma moça à sombra do céu.
Ela se chama "flor".
É branca e tem cabelos verdes.
Mora ao lado do tronco cortado
a que chamaram "mangueira"
e tem um bisneto a seu lado.

Parreira se derrama.
Em agosto, podá-la,
assim me ensinou
meu mestre em podas de parreira.
O mesmo cujo vinho
é chamado a compor
a taça de Deus,
experiência feita.

O silêncio do vento cobre o verde.
A sombra do pomar nem parece sombra.
É como um botão que não desabrochou
à luz que o rodeia.

Vinhas de cegos.
Assim são os eucaliptos.
Menos este
que exala puridade
do seu corpo branco, imaculado,
e das suas folhas mágicas
como asas de tinkerbell.
Assim me parece, esse moço.
Alto como jogador de basquete,
alto como torre
de uma igreja,
cujo sino
o coroinha é incapaz de tocar.

Cerca da varanda.
Multidão de tias.

Fogão de lenha.
Morada de antigos leitões.

Pereira tremulante.
Onde moram orquídeas calmas.

Fonte aquietada,
a garganta da pia,
quieta.
Mas basta eu esperá-la,
à fome,
para que se abra e saia
a sua seiva.
Seiva de água.
Que se desfaz em sede.

Passante destas plagas,
um ser humano,
que foi colher coisas
no pomar.

Saudação,
"Ooi".

Vento
que não incomoda o gramado.

Cachorros vêm procurar carinho.
Encontram a benção de Deus.

E tu não estás aqui, meu amigo,
nesta cadeira.
A de número 7 na astrologia.
A de cor verde na alquimia.
A branca cadeira
da realidade.

Tu não estás aqui, meu amigo,
mas noutro lugar.
E onde estejas
esteja o teu coração.

...

Volta, o ser humano, por selvas,
e por garridas garras de acerolas,
volta caminhando,
com a sacola cheia
da caça de laranjas.

Silêncio.
Tudo vai dormir.
Ou sonhar.

Estábulo vazio.
Campina aberta.

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